As férias de verão são um convite ao descanso. São um momento para relaxar, passar um tempo de qualidade com familiares e amigos e até viajar para conhecer novos destinos e aproveitar os dias quentes.
Mas as viagens de férias são, também, um período do ano em que os riscos de acidentes de trânsito aumentam significativamente devido ao maior fluxo de veículos nas rodovias. E entre as principais consequências dos acidentes nas estradas estão as lesões medulares e no crânio – os chamados traumas raquimedular e cranioencefálico – que podem causar danos irreversíveis ao corpo.
O que são lesões medulares?
A medula espinhal é uma estrutura importante do sistema nervoso central que fica protegida dentro da coluna vertebral. Ela é responsável por transmitir as informações e comandos entre o cérebro e o resto do corpo (braços, pernas, tronco, pelve).
“As lesões medulares são danos à medula espinhal, decorrentes geralmente de uma fratura na coluna vertebral, que comprometem a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Dependendo da gravidade e da localização da lesão, os sintomas podem variar de paralisia parcial a total tanto dos braços quanto das pernas, além de disfunções cardiorrespiratórias e geniturinárias”, define o neurocirurgião Dr. Ivan Hattanda, que atua em Londrina.
A lesão medular pode levar a alterações motoras, sensitivas, autonômicas e psicoafetivas. Estas alterações se manifestam, principalmente, como paralisia ou paresia dos membros, alteração de tônus muscular, alteração dos reflexos superficiais e profundos, alteração ou perda das diferentes sensibilidades, como tátil, dolorosa, de pressão, vibratória e proprioceptiva, além de perda de controle esfincteriano, disfunção sexual e alterações autonômicas, como controle de sudorese, de temperatura corporal, entre outras.
De acordo com as “Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular”, publicadas pelo Ministério da Saúde, estima-se que ocorram a cada ano no País mais de 10 mil novos casos de lesão medular, sendo o trauma a causa predominante. Estudos em centros de reabilitação revelam que a maior parte dos casos relaciona-se a acidentes automobilísticos.
Os principais tipos de lesão medular incluem:
- Paraplegia: perda dos movimentos e sensação nos membros inferiores (coxa, pernas e pés), geralmente causada por lesões na região torácica ou lombar. Pode ser uma perda total (paraplegia) ou parcial (paraparesia).
- Tetraplegia: comprometimento dos movimentos e sensação nos membros superiores e inferiores (nas mãos, braços, tronco e pernas). São associados a lesões na região cervical. Também podem ser total ou parcial.
Pessoas com lesões medulares frequentemente enfrentam complicações secundárias, como:
- Infecções pulmonares, urinárias e escaras devido à imobilidade prolongada;
- Espasticidade muscular, que pode interferir na qualidade de vida;
- Depressão e outros transtornos psicológicos decorrentes das limitações físicas e sociais.
Como é o tratamento das lesões medulares
Para simplificar o entendimento do tratamento, vamos dividir a lesão medular em primária e secundária. A lesão primária é aquela que acontece já no ato do acidente, com o sintoma já presente no momento da lesão. A lesão secundária é a piora da lesão primária, ou seja, a medula já machucada recebe outros fatores que aumentam o seu dano: uma piora da compressão medular devido um transporte ou mobilização inadequada do paciente ou uma falta de oxigênio ou circulação de sangue na medula devido a algum dano em outros órgãos.
Desta forma, fica mais fácil entender que o tratamento da lesão medular já começa na cena do acidente, no atendimento pré-hospitalar. Geralmente é realizado com a equipe do SAMU ou do SIATE, com a imobilização, estabilização e transporte da vítima de forma segura. No hospital, a equipe do pronto-socorro já faz o primeiro atendimento, diagnosticando os problemas e estabilizando a vítima.
Quando diagnosticada a lesão medular, o neurocirurgião é prontamente acionado, desencadeando uma cascata de medidas para o tratamento da lesão medular propriamente dita, que vai desde medicamentos, imobilização com colar e colete podendo, muitas vezes, passar por cirurgia.
“O tratamento cirúrgico para uma lesão medular, quando necessário, visa tirar o que está machucando a medula, seja um hematoma, um pedaço de osso devido a fratura da coluna ou até um corpo estranho. Durante a cirurgia, o neurocirurgião certifica que a medula está livre dessas compressões e, muitas vezes, é necessário estabilizar a coluna colocando parafusos, placas e hastes”, explica o Dr. Ivan.
Depois da cirurgia, vem um longo período de recuperação, reabilitação e readaptação. O tratamento multiprofissional, com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, entre vários outros, é peça importante para restaurar o máximo de função do paciente.
Prevenção de acidentes
Infelizmente, apesar de todos os esforços dos profissionais de saúde, muitas vítimas têm suas vidas completamente mudadas devido a uma paraplegia, tetraplegia ou sequela neurológica. Por isso, a prevenção do acidente é tão importante.
O uso do cinto de segurança é uma das medidas mais eficazes para prevenir lesões graves em acidentes de trânsito. Dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) mostram que o cinto reduz em até 50% o risco de morte e em 45% a probabilidade de lesões graves. Ele impede que os ocupantes do veículo sejam projetados contra o painel, o para-brisa ou para fora do carro.
Um estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego apontou que o uso do cinto de segurança no banco da frente reduz em 45% as chances de lesões graves em sinistros e, nos bancos de trás, os passageiros ficam até 75% mais seguros.
Já para os motociclistas, o uso de capacetes é obrigatório, e as luvas, botas e jaqueta são essenciais para evitar lesões.
Medidas preventivas propostas pelo DNIT incluem também:
- Respeitar os limites de velocidade e a faixa de pedestres;
- Evitar a condução sob efeito de álcool ou drogas;
- Realizar a manutenção regular do veículo;
- Usar cadeirinhas e assentos apropriados para crianças;
- Não falar ao celular no trânsito;
- Manter uma distância segura de outro carros;
- Usar as setas do veículo corretamente;
- Praticar direção defensiva.
Conclusão
Durante as viagens de férias, é essencial priorizar a segurança no trânsito para prevenir acidentes e, consequentemente, lesões graves, como as medulares. O uso do cinto de segurança é uma medida simples, mas extremamente eficaz, que pode salvar vidas e evitar sequelas permanentes.
A equipe de saúde, liderada pelo neurocirurgião, tem um papel fundamental na atenção aos pacientes que sofrem esse tipo de lesão, promovendo intervenções cirúrgicas e terapêuticas que buscam devolver ao paciente o máximo de funcionalidade possível.